A experiência de liberdade dos
atenienses ficou esquecida por séculos. Durante a idade média, os monarcas
cristãos se proclamavam com o direito divino para governar com poder absoluto
sobre seus súditos, os quais não tinham meios de fazer valer sua vontade salvo
por via da luta armada. Este modo extremo de tentar coibir um poder
discricionário e arbitrário era punido com a pena de tortura e morte, caso
fracasse. Se vencesse, pareceria uma vitória espúria e pecaminosa.
O primeiro filósofo a retirar uma
pedra da base do poder absolutista por direito divino foi Thomas Hobbes. Ele
teorizou que os homens primitivos viviam em constantes guerras de rapina entre
si, e eles teriam entrado em acordo para formar um governo que os protegesse,
uns dos outros, pois o progresso não seria possível naquelas condições de
guerra permanente.
Logo outros filósofos levaram
mais longe a idéia de um contrato social como origem natural do governo, oposta
à crença no Direito Divino dos reis. Assim como Hobbes, Locke, Hutcheson e
Rousseau imaginaram sociedades primitivas cujo desenvolvimento natural haveria
de conservar a liberdade do homem e do seu anseio de trabalho e desenvolvimento
solidário.
Uma voz de veemente protesto
contra tal concepção empírica e não dogmática,
da origem natural do governo foi a de Sir Robert Filmer. Escreveu um livro em
defesa do direito divino dos reis e a função patriarcal do monarca. Segundo
ele, Deus havia dado a autoridade política diretamente ao rei e aos seus
sucessores legítimos, discricionária, do mesmo modo que um pai era considerado
então o chefe absoluto da família.
O filósofo John Locke (1632 –
1704) entrou em polêmica com Filmer, argumentando que um governo é legitimo
apenas se tem consentimento e aprovação dos governados. Locke é o primeiro a
afirmar que o indivíduo possui o direito à liberdade e à propriedade. Estes direitos precederiam a criação de um
governo, pois este último resultaria de uma convenção pela qual os indivíduos
decidissem livremente a se associarem para melhor proteger seus direitos.
Hutcheson supunha contrariamente
a Hobbes, uma união fraterna entre os homens primitivos. Acreditava em uma “faculdade
de sentimento moral” que ligaria toda a humanidade com benevolência e
solidariedade. Somente estavam sujeitos apenas a Deus e às leis da natureza.
Na visão de Rousseau, o
desenvolvimento humano passa por vários estágios a começar do mais primitivo,
em que os homens se associam apenas para caçar, seguido pela fase de agregação
permanente, porém com pouca divisão do trabalho e propriedade, e finalmente o
terceiro estágio, com acentuada divisão do trabalho e propriedade, o que permite surgir a agricultura e a metalurgia.
A partir desse último estágio cresce a desigualdade de propriedade e outras
formas de desigualdade social.
O pensamento de Rousseau, que já
se assemelhava ao de Hutcheson quanto à bondade natural do homem primitivo,
também se apossa da idéia de “vontade geral” latente em Platão. Aquele que
conhece os caminhos racionais para o bem estar e o progresso social –
finalidade da união dos homens e por isso objeto da “vontade geral” -, deve conduzir a sociedade a esse caminho,
ainda contrariando os sentimentos e a vontade da maioria, e por meio da força.
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